Em Busca da Intimidade Perdida - Trailer

Meu DVD de mensagem!

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O Apóstolo do Bigode Santo




Sinopse

Num retiro religioso fatídico, um homem dedicado à espiritualidade alcança o seu mais alto grau de LOUCURA. Luta contra demônios imaginários, funda uma igreja numa caverna, proclama o seu bigode ungido e recruta fiéis incautos; tudo porque foi consagrado apóstolo por um menino em plena rua.

Não se trata de uma história como qualquer outra, mas de uma narrativa vibrante que o fará se questionar sobre o que leva as pessoas a verem a si próprias como profetas divinamente inspirados – uns com placa na mão, anunciando o fim do mundo; outros liderando revoluções populares históricas; com pincel, tinta e uma mensagem de paz e amor na cabeça; ou mesmo o mais quixotesco de todos, que viaja o mundo inteiro e possui, inclusive, um site na internet, se autoproclamando a reencarnação do Cristo de Deus.

Mergulhe neste universo inesquecível que é a mente humana. Percorra o caminho que tem levado muitas pessoas a seguirem tais profetas moribundos. Conheça o surgimento e queda de uma seita que levou muitos a uma fé cega e inócua. Tudo por causa de um amor não correspondido...



O retiro espiritual

Como eu prometi, passo a contar as aventuras em que acabei por me envolver. Para isso, lançarei mão de alguns detalhes que o apóstolo Paraíso me forneceu em nossas andanças ministeriais e de informações colhidas de outras pessoas que fizeram parte da sua vida.

Tudo começou em um retiro espiritual numa escola de minha cidade natal. Esse retiro era reservado apenas aos evangélicos inscritos do estado do Rio de Janeiro. Creio que aconteceu num fim de semana.

Foi nessa ocasião que Miguel visitou minha cidade. Ela não possuía muitas atrações turísticas; mas, de vez em quando, chegava gente diferente por lá. O meu povo sempre foi bastante carente, como eu mesmo fui durante grande parte da minha vida. Não que seja rico agora, mas tenho uma vida relativamente confortável. Concluí meus estudos atrasados, estou terminando o seminário de teologia e já comecei a trabalhar como auxiliar ministerial numa igreja perto de minha residência atual. Possuo uma casa com dois quartos e alguns móveis simples, uma televisão de quatorze polegadas, um Fiat velho, uma esposa e um cachorro poodle de estimação.

Mas, voltando à cidade, foi lá que aconteceu um retiro espiritual bastante diferente. Bem mais tarde Miguel me disse que os participantes não podiam sequer se cumprimentar uns com os outros. Era uma regra interna. Naquele encontro eles recebiam estudos especiais sobre doutrinas religiosas básicas e sobre o que eles chamavam de “cura interior”. Na verdade, eu soube que muitos dos que ali estavam caíam no chão, movidos por uma força misteriosa, além de quebrarem diversas “maldições hereditárias” e – parece até brincadeira! – alguns imitavam animais em plena reunião.

O fato é que Miguel de Sá Avedra estava por lá. Era um moreno claro, de meia idade, magro, alto, de fartos bigodes grisalhos, cabelos também grisalhos e olhos castanhos. Miguel era ingênuo e não conhecia muito da vida. Era descendente de espanhóis, trabalhava como ajudante de pedreiro e vivia de maneira muito simples. Tinha uma pequena marca na mão esquerda – decorrente de um ferimento num acidente de trabalho quando tinha apenas 15 anos de idade.

Como qualquer história que se preze precisa ter romance, Miguel era solteiro e eterno apaixonado pela vizinha, Catarina Nicanor Soares Fernandes – mulher tímida, loira, de olhos verdes, cintura grossa e altura mediana. Havia, porém, um grande problema para ele. Por ser de uma família tradicional de classe média, Catarina sequer notava seus olhares insistentes. Ela estava por demais ocupada com seus alunos do ensino fundamental – para os quais, aliás, lecionava por puro prazer.
Aquela professorinha foi a causa de tantos infortúnios para o meu amigo. Ela levou-o literalmente à loucura.

Faltando apenas um dia para o término do malfadado retiro, Miguel não percebeu que a proibição de comunicação com os outros participantes já havia terminado. Quando quis se isolar ainda mais na última noite para orar fervorosamente por sua amada, resolveu fugir durante a madrugada. Conseguiu se esgueirar pelos baixos muros do colégio e sumiu de vista rapidamente.

Ao amanhecer, os retirantes se preparavam para o retorno, quando deram por falta de Miguel. Procuraram-no durante todo o dia com o auxílio policial, mas não o acharam. Como estavam com hora marcada para a chegada, resolveram retornar sem ele e comunicar pessoalmente o desaparecimento à família que, de tão pobre, não possuía telefone.



Um homem sonha

Era uma esfera de metal gigantesca. Aliás, eram várias esferas pairando sobre diferentes pontos do espaço absolutamente silencioso e reluzente. Parecia o caos pré-criação divina, mas sem a escuridão característica de tal cenário.

Miguel brotou de dentro da enorme esfera metálica como uma árvore rompendo as entranhas da terra, só que numa velocidade espantosa. Sem pestanejar, Miguel sobrevoou toda a extensão da esfera e se perguntou de onde vinha tanta luz. Não encontrou a fonte, mas viu muitas outras esferas que refletiam a mesma luz intensa não produzida por elas mesmas, vindo de um lugar nunca dantes conhecido.

Sem entender nada, Miguel fez um esforço sobrenatural para voar de uma esfera a outra para ver se conseguia alguma pista relevante. Nada. Sua força não dava para tanto. Quem sabe fossem mundos ou universos diferentes e que não estavam acessíveis à sua investigação consciente? Quem sabe já havia morrido e não sabia? Subitamente, uma voz cortou o silêncio, quebrando o fluir de seus pensamentos intrigados...

Miguel acordou sobressaltado debaixo de uma pequena depressão, coberto por uma cortina de folhas secas e areia e lambido por um vira-latas magro e ensebado. Sua cabeça doía grandemente. Seus miolos ardiam debaixo do sol quente. Sem ter nenhuma idéia do que estava fazendo ali, ou de quem ele era, Miguel se levantou com grande custo e perambulou a esmo pelas ruas empoeiradas daquele lugar inexpressivo.
O cão o seguiu.

-o-o-o-

– Auf! Auf! – ladrava o perebento.

– Quieto, rapaz! – repreendia baixinho Miguel, entre uma mendigação e outra. Desde que batera com a cabeça e perdera a consciência de quem era, somou-se aos pedintes daquela cidade. Há três meses se recolhera à sua miserabilidade e mendigava alguns trocados entre as estátuas de entidades espirituais, abundantes naquela região.

Alimentava-se ainda mais parcamente. Parecia uma vara de tão magro. Faltavam-lhe a força e a agilidade que tinha quando tratava com cimento e tijolos. Ficou reduzido a um farrapo de gente, minguado, rarefeito, imundo, sem perspectivas.

Por companhia constante apenas o vira-lata, que também era magro e cheio de feridas purulentas não tratadas. Seus parcos pêlos eriçados eram de cor acinzentada com manchas negras. Sua cauda era a região mais peluda do corpo esquelético. Apesar de dócil, o cão era indesejado pela população. Vivia mendigando sobras pelas ruas por muito mais tempo que Miguel. Possuía a habilidade especial de farejar comida a longas distâncias – ainda que tivesse de fuçar o lixo para encontrar o objeto de seu sonho momentâneo.

Apesar de feio e mal-cheiroso, o vira-lata consolava Miguel em sua solidão e desgraça.

-o-o-o-

Numa madrugada chuvosa, Miguel sonhava outra vez. Entre os delírios de mesa fartamente enriquecida com iguarias que nunca provou, nosso mendigo acreditou ouvir uma segunda voz diferente em sua cabeça, durante o sonho. Desta vez Miguel conseguiu entender a mensagem da voz. Ao acordar, mais confiante, começou a lembrar da fé que outrora tinha em alguma coisa superior a si mesmo. Lembrou também de uma bela mulher loira por quem sentia um apreço especial.

– É isso! – gritou – eu já entendi tudo! Agora lembro quem eu sou! Eu sou um enviado especial de deus. Eu fui chamado para ser um apóstrofo; não ... um epístolo! É isso! Um epístolo de deus. E sou noivo de uma bela epistolisa: Catalina del Paraíso.
– Houf?! – Espantou-se o vira-lata.

– bramante! Seu nome será bramante! Meu lindo cãozinho... agora você terá um nome. Que tal?

O cachorro abanava a cauda encardida satisfeito. O futuro apóstolo esfregava com vontade o próprio rosto nas feridas molhadas de bramante. A festa se estendeu pelo resto da madrugada. A chuva só cedeu pela manhã.


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Estes são apenas dois capítulos do livro "O Apóstolo do Bigode Santo", de minha autoria.

O livro todo já está pronto para edição, mas preciso de sua ajuda para imprimir os exemplares. Apóie este ministério. Entre em contato!

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